sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Como Criar Conexões Emocionais Entre Leitor e Personagem

Conexão emocional
Se queres que os teus leitores riam, chorem ou fiquem acordados a pensar na tua história, precisas de uma coisa: conexão emocional. É isso que transforma personagens em amigos, vilões em pesadelos e histórias em memórias que ficam. 

Neste artigo, vamos explorar como criar ligações emocionais fortes entre leitores e personagens, com exemplos de obras conhecidas em Portugal e dicas práticas que podes aplicar já hoje. Tudo explicado de forma clara, leve e direta ao ponto.

1. Dá uma alma à personagem

Não basta dizer que o João está triste. Mostra-nos o porquê. O que o faz levantar da cama todos os dias? O que o parte por dentro?

Exemplo: “Ensaio sobre a Cegueira” de José Saramago

A mulher do médico é uma personagem com quem nos conectamos profundamente porque vemos o seu sofrimento, compaixão e força interior num mundo que desaba. Ela não é perfeita, mas é intensamente humana. 

Foco:

  • Medos e desejos reais
  • Contradições internas
  • Vulnerabilidades 

2. Mostra, não digas (mas com emoção!)

Evita cair no clichê do “ele era muito corajoso”. Em vez disso, mostra-o a tremer de medo mas mesmo assim a avançar. 

Exemplo: “O Rapaz do Pijama às Riscas” de John Boyne
Bruno é uma criança inocente, curiosa e gentil. O leitor não se conecta com ele por ser “bonzinho”, mas porque vê os momentos em que age com bondade sem sequer entender o mal à sua volta. A emoção está nas entrelinhas. 

Foco:
  • Gestos e ações pequenas
  • Diálogo com subtexto emocional
  • Momentos de escolha ou sacrifício 

3. Cria momentos relacionáveis 

Quanto mais o leitor se vir na personagem, mais vais sentir com ela. Não precisas de grandes dramas — às vezes, basta uma memória de infância ou uma conversa com a mãe. 

Exemplo: “A Lua de Joana” de Maria Teresa Maia Gonzalez
A protagonista escreve cartas à amiga que já não está viva. É impossível não nos ligarmos às suas dúvidas, à dor da adolescência e aos momentos de solidão. Porque já estivemos lá, de alguma forma. 

Foco:
  • Emoções universais (medo de perder, querer ser aceite, sentir-se invisível)
  • Pequenos momentos do dia-a-dia
  • Reflexões internas reais

4. Dá-lhes falhas (sérias!)

Personagens perfeitas são chatas. Se o leitor nunca viu uma pessoa como aquela, não vai sentir nada. Dito isto, dá falhas…mas com propósito.

Exemplo: “O Retrato de Dorian Gray” de Oscar Wilde

Dorian é vaidoso, egoísta e muitas vezes cruel. Mas há momentos em que o leitor sente pena, raiva, confusão. E tudo isso é conexão. A complexidade prende.

Foco:

  • Defeitos que geram conflito
  • Falhas que se revelam com o tempo
  • Arcos de redenção ou queda

5. Mostra como o mundo os vê (e como eles se veem)

A tensão entre como a personagem é tratada pelos outros e como se vê a si mesma cria uma empatia poderosa.

Exemplo: “Capitães da Areia” de Jorge Amado
O grupo de miúdos de rua é visto como delinquente pela sociedade, mas o leitor conhece os seus sonhos, a amizade entre eles e a luta por sobrevivência. Não há como não sentir por eles. 

Foco:
  • Conflitos entre identidade e percepção 
  • Rejeição, exclusão, julgamento
  • Desejo de ser amado ou aceite

BÓNUS: A técnica da “cena espelho”

Inclui uma cena onde a personagem se vê refletida — num espelho, numa fotografia, num comentário alheio — e lida com isso. Isto cria intimidade imediata com o leitor.

Pode ser subtil: a personagem vê alguém a sofrer como ela e tenta ajudar…ou foge.

Conclusão

Personagens memoráveis não precisam de superpoderes, mas sim de emoções humanas bem trabalhadas. Lembra-te: o leitor só vai chorar no final se tiver criado uma ligação no início. 

Cria personagens com alma, falhas, momentos reais e conflitos internos. Não expliques, mostra. E foca-te sempre na emoção. É aí que a mágica acontece. 

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