Lembro-me da primeira vez que mudei de casa. Sentada naquela cama nova, naquela casa que ecoava as nossas vozes da pouca mobília que tinha. Fiquei toda a noite a olhar pela janela do meu quarto, com os phones nos ouvidos, à espera. Simplesmente à espera. Estava com medo, nervosa. Queria alguém ali para me abraçar e dizer "está tudo bem. podes adormecer". Mas não estava. Várias vezes alguém me gritava "ninguém quer estar sozinho", quando eu tentava ter dois minutos de puro silêncio, sem ter que forçar um sorriso ou prestar atenção a alguém que não eu. Ela tinha razão. No fundo, ninguém quer estar sozinho, nem mesmo para ter aqueles dois minutos de paz. Porque ela ensinou-me que o problema não é a presença da pessoa, mas a voz. Há pessoas que deviam aprender a calar e ficar assim, em silêncio. Não por quererem, mas porque certa e determinada pessoa precisa que te cales por dois minutos. Eu aprendi que a mesma pessoa que me deita a baixo, pode ser ela mesma a estender a mão e ajudar-me a levantar. Eu aprendi muito contigo. Principalmente a crescer. Mas nessa noite, mesmo sem ninguém, onde tudo era silêncio, eu desejei o barulho. E assim que o sol nasceu e as pessoas começaram a sua rotina diária, eu sussurrei para mim mesma: "está tudo bem, podes adormecer". E lentamente fui fechando os olhos... Porque com ou sem alguém, o sol volta a nascer e mais tarde, a noite é, mais uma vez, realidade.
Um blog literário e criativo com foco na escrita, na leitura e na transformação pessoal.
quinta-feira, 23 de maio de 2024
Memórias
Lembro-me da primeira vez que mudei de casa. Sentada naquela cama nova, naquela casa que ecoava as nossas vozes da pouca mobília que tinha. Fiquei toda a noite a olhar pela janela do meu quarto, com os phones nos ouvidos, à espera. Simplesmente à espera. Estava com medo, nervosa. Queria alguém ali para me abraçar e dizer "está tudo bem. podes adormecer". Mas não estava. Várias vezes alguém me gritava "ninguém quer estar sozinho", quando eu tentava ter dois minutos de puro silêncio, sem ter que forçar um sorriso ou prestar atenção a alguém que não eu. Ela tinha razão. No fundo, ninguém quer estar sozinho, nem mesmo para ter aqueles dois minutos de paz. Porque ela ensinou-me que o problema não é a presença da pessoa, mas a voz. Há pessoas que deviam aprender a calar e ficar assim, em silêncio. Não por quererem, mas porque certa e determinada pessoa precisa que te cales por dois minutos. Eu aprendi que a mesma pessoa que me deita a baixo, pode ser ela mesma a estender a mão e ajudar-me a levantar. Eu aprendi muito contigo. Principalmente a crescer. Mas nessa noite, mesmo sem ninguém, onde tudo era silêncio, eu desejei o barulho. E assim que o sol nasceu e as pessoas começaram a sua rotina diária, eu sussurrei para mim mesma: "está tudo bem, podes adormecer". E lentamente fui fechando os olhos... Porque com ou sem alguém, o sol volta a nascer e mais tarde, a noite é, mais uma vez, realidade.
segunda-feira, 13 de maio de 2024
Maggie O’Farrell writing advice
“You have to think of your fears and doubts as your friends, because they’re useful.”
“Don’t worry to much about knowing what you’re doing at the beginning. You can start in the middle if you want! Just put the words down.”
“Stories will always find their own shape - they’re like water, they will fill whatever vacancy they’re given.”
“If you have trouble switching from your real world to your fictional one, try listening to the same piece of music, over and over again, until whatever surrounds you fades away.”
“Towards the end, it will be graft that gets you through. Know that you will redraft and rewrite your work thirty, forthy, fifty times. You will examine and agonize over every comma, every semi-colon, every adverb.”
“Every book teaches you something, at the same time as filling you with a desire to put this new knowledge into practice, to try again. It’s all part of the process.”
sexta-feira, 10 de maio de 2024
O Grande Gatsby - F. Scott Fitzgerald
Início da leitura: 27/04/2024
Fim de leitura: 08/05/2024
Rating: ★★★
Este livro levou-me um bocado mais de tempo a concluir, não só porque não li todos os dias, como porque a linguagem do próprio livro não é algo que esteja habituada.
Hoje em dia, quase tudo o que lemos tem finais felizes, mas neste livro o final é trágico e triste. O Gatsby, que dava sempre grandes festas de arromba na sua casa com esperança que o seu amor do passado, Daisy passa-se por lá algum dia, acabou sem amada e sem vida. E no dia do seu funeral, apenas quatro pessoas apareceram. Mostrando assim, que lá porque tens dinheiro, lá porque és uma boa pessoa, não quer dizer que venhas a ser valorizado, nem mesmo depois de morto.
Tom aproveitou-se da situação entre Gatsby e Daisy para lhe facilitar a vida, dizendo a Wilson que o carro amarelo era de Gatsby, levando assim à sua morte, mesmo sabendo que era Daisy quem conduzia o carro quando ocorreu o acidente. Mas, assim, tiraria Gatsby do seu caminho e Wilson nunca suspeitaria que a mulher estaria a ter um caso com Tom.
Nestes loucos anos vinte, onde o álcool fora proibido, este era contrabando fácil nas festas de Gatsby, a vida de excessos e o adultério são os temas principais deste livro, a meu ver.
segunda-feira, 6 de maio de 2024
Diz-me oh mar!
As minhas mãos estão cheias de veias, manchas pequeninas em vários tons de castanho. Os dedos falham-me no fogão. Limpo as mãos ao avental branco e vermelho aos quadradinhos que trago na cintura. Cintura essa que deu luz a cinco filhos… O meu marido, sempre de barba feita, cabelo penteado, grisalho como o meu, toma o seu leite, na varanda do nosso sexto andar. Sente a maresia e escuta o som das gaivotas que pairam sobre a sua cabeça. É inverno. O Algarve está vazio. Não existem almas a percorrer as calçadas da rua ou a fazer castelos na areia. Há muitos muitos anos que não sinto os grãos de areia a fazerem-me cócegas nos pés. O vento a bater-me na cara e a fazer voar os meus lenços do cabelo. Olho no espelho velho do nosso quarto, talvez tão velho quanto eu, e observo os meus olhos cinzentos, cor das rochas ao sol. Um cinzento claro, com tons de branco e preto, como se a espuma da água do mar se encontrasse com as conchas pretas na areia de um dia de verão.
Uma pessoa nunca pensa até que idade irá chegar. No meio do quotidiano da vida, vivendo um dia de cada vez, acabamos por não nos darmos conta da passagem dos anos. Os anos passam por nós. É essa a sensação que me dá. A minha cabeça ainda se lembra de quem eu era, quando nova. As paixões, os desafios, a rotina… Mas, nós também passamos pelos anos, certo? Para este nosso planeta, não somos nada. Não passamos de almas que estão cá num segundo e no outro não estamos mais. Será que a terra sente o meu peso? Sentiu o peso dos meus filhos, em cada nascimento? Sentiu o peso dos meus joelhos, sempre que me ajoelhei para pedir ajuda, pedir perdão, pedir refúgio? Será que alguém me ouviu?
Ouviste-me, tu, oh mar? Que bates as ondas contra a areia e as rochas, numa sincronia tal, que não tem fim. Ondas curtas, ondas longas, ondas inacabadas, ondas que não têm fim… Porque reclamas a tua natureza em cima da terra que me segura as pernas, e me faz caminhar pelos anos que passam por mim?
Poderei eu reclamar as minhas frustrações nas tuas ondas sem que me leves daqui? Poderei gritar aos ventos do oeste quem sou eu e o que faço aqui? Na melodia que passa na minha cabeça, vejo a valsa que dancei no dia do meu casamento. A mão do meu marido no fundo das minhas costas, a guiar-me como uma pena. O sorriso de quem acha que achou a mulher mais bonita de Lisboa. O sorriso vindo antes da gargalhada que ele sempre faz, e o passo cruzado a meio da valsa, não só para me trocar as voltas, mas para mostrar a todos o bem que sabe dançar. Eu era a parceira de dança do meu marido. Hoje não sou mais.
Hoje ele dança com as estrangeiras que vêm de férias para o Algarve. O nosso bonito Algarve. Hoje ele me visita num lar, onde me encontro numa cadeira de rodas, sem saber quem sou, quem fui ou quem ele é. Sempre que pode vem ver-me. Vem dar-me um beijo. E nos dias bons e raros, que sei quem ele é. E depois de tudo o que vivemos. Depois dos nossos setenta anos de casados… Aos noventa e quatro anos, digo o que sempre disse “Não importa o que ele faça ou diga. No final do dia, o meu amor por ele continua o mesmo.” Haverá, nos dias de hoje amores que durem na passagem dos anos? Ou os anos passam e o amor não dura? Saberás tu a resposta, oh mar? Ou simplesmente levas contigo aquilo que um dia me trouxeste? Um amor para a vida, ou uma vida de amor? Saberás a diferença? Será que existe alguma?
segunda-feira, 29 de abril de 2024
Como se fosse a primeira vez - Raul Minh’alma
Início de leitura: 21/04/2024
Fim de leitura: 26/04/2024
Rating: ★★★★★
Mais uma vez, chorei muito no final deste livro. Este autor deixa-me sempre com lágrimas nos olhos. Vai-se lá entender porquê.
Ao dividir o livro em cinquenta capítulos em que mostra duas histórias com 6 anos de diferença do mesmo casal, desde a altura em que se conheceram e começaram a namorar, até à chegada do primeiro filho e dos desafios que isso implica. Ao longo do livro o autor aborda muitos temas, como o luto, a importância de se ouvir o coração. Os estragos que se podem fazer na cabeça de uma mulher grávida que passa por todas as inseguranças e ainda há pessoas, mesmo da família que não vêm ajudar em nada, até pelo contrário. A importância que há na comunicação entre casais e o pôr-se no lugar do outro. O tema de se se acredita na vida após a morte, se quem está em coma realmente nos ouve.
É sem dúvida uma história de amor muito bonita, com muito para se refletir.
O livro é narrado na terceira pessoa, pelos olhos das duas personagens principais, o que nos ajuda a compreender o ponto de vista tanto de Lourenço como de Aurora ao longo do livro, com linguagem fácil e simples de se compreender.
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“Como se fosse a primeira vez” de Raul Minh’alma
sexta-feira, 26 de abril de 2024
Isto Acaba Aqui - Colleen Hoover
Início da leitura: 3 de Abril de 2024
Fim da leitura: 20 de Abril de 2024
Rating: ★★★★
Sim, eu sei… tanto tempo para ler um livro com 336 páginas? A verdade é que no início a história não me puxou muito a atenção. Só a partir do sétimo capítulo é que comecei a devorar o livro. Mas, eu sou mesmo assim. Primeiro que entre na história dos personagens levo tempo.
Apesar de o livro ler-se rápido e ser-se extremamente fácil de ler, com linguagem do dia-a-dia, houve algumas coisas que me fez questionar algumas cenas do livro, embora, tenha reparado, que não acontece apenas neste, mas em muitos outros livros. Como, por exemplo, quando Alyssa acaba por entrar na loja de Lily, à procura de trabalho, visto que é rica e não necessita disso. Mas, entendo, que numa questão de enredo, fosse também com o objetivo de pôr Riley a aparecer mais uma vez na vida de Lily. A personagem não fora feita por acaso. Mas, gostava que ele tivesse voltado a aparecer de outra maneira, mais “credível” talvez? No entanto, não desgostei desse facto, porque assim podemos ter uma visão das coisas que se estavam a passar com Lily e Riley pelo ponto de vista de uma pessoa próxima de Riley.
Consegue ver-se a química entre Riley e Lily ao longo do livro, mas também se percebe que Riley sofreu um trauma gigante quando era criança e que ele acaba por contar a Lily o que aconteceu. Talvez numa forma de justificar a sua forma de agir, após a ter ferido fisicamente. Por vezes, gostava de ler um livro deste género mas, sem a parte da violência física, uma vez que há relações abusivas apenas com abusos emocionais e psicológicos. Mas, como estes são mais difíceis de provar, não lhes dão grande importância.
Ao longo do livro, podemos ver Lily a ler as entradas do diário dela dirigido a Ellen Degeneres e uma referência ao filme do “Nemo” da Disney, onde ela fala sobre o sem-abrigo que ajudou na altura da escola, chamado Atlas. Eles têm um romance de adolescentes e quando Lily está em Boston, com Riley, a viver uma relação abusiva, mas sem acreditar que é mesmo isso que se está a passar, encontra Atlas num restaurante.
A história passa-se com mais cenas abusivas por parte de Riley. Lily acaba por pedir ajuda a Atlas, pedir conselhos à mãe, visto que o seu próprio pai era um homem abusivo que a fez passar por muito. Até que Lily decide pôr um ponto final nessa história toda e pedir o divórcio a Riley. E sim, no final, acaba com Atlas.
Teve um final feliz. Algo que é raro em casos reais destes, embora sejam possíveis. A autora deixa uma nota em que se baseou em factos reais da história da sua própria mãe com o seu pai e conta como fora a sua relação com ele.
É sem dúvida um bom livro, e quem gosta de romance, certamente gostará deste. Não só é romance, como fala sobre o temido tema da violência doméstica. Tema esse, que gostaria de ver ser abordado em mais livros.
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Edição Especial Filme “Isto Acaba Aqui” de Colleen Hoover
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