quinta-feira, 20 de junho de 2024

Dilemas de Português

 


Há uns anos atrás quando estava eu a estudar na Universidade do Porto, numa aula de fonética, o professor pediu à turma que lhe indicasse sinónimos da palavra “afia”. Á medida que os alunos iam dizendo, ele ia escrevendo no quadro. Apareceram nomes como “afia”, “apara-lápis”, “aguça”, “apara” e por aí em diante… Entretanto, como ainda não tinha visto a palavra que eu sabia que significava a mesma coisa e eu sempre disse, porque sou de Leiria, pensei que a minha sugestão ia ser bem-vinda. Ponho o dedo no ar, com orgulho de poder participar e dizer uma palavra que ninguém disse ainda. O professor passa-me a palavra e digo “AFIADEIRA”. Mas o que saiu da boca do professor surpreendeu-me: “Oh menina, essa palavra já não se usa nos dias de hoje.” 

Engraçado que se alguém vier a Leiria e pedir uma aguça, eu tenho a certeza que iram levar com aquele olhar trinta e três que se interroga “O que raio estás para aí a dizer?”, mas pronto, tudo bem. 

Ainda assim, o professor colocou a palavra no quadro. Foi batalha meia ganha. Pelo menos assim o considerei. 


quinta-feira, 13 de junho de 2024

Desejo


Crio em ti a imagem que sou e entre os labirintos do meu corpo, sinto-te. Os lábios grená que surgem nesta escuridão imunda de amor e ódio. Que a minha paixão é loucura e a razão fraca demais para que o desejo não prevaleça. O suor do teu corpo e o calor do meu toque nem por isso suave. E os gritos abafados e os vidros embaciados. O meu sangue é vinho vertiginoso. Se fosse o amor a essência mais pura, o ódio servido em castiçal também seria perfeito. O olhar enternecedor cruza a minha estrada e choro para que possa entender as suas lágrimas. Por entre rios andei e em ruas mergulhei. O toque de peles que faz arder o sensível corpo que me acompanha. A minha mente é cinza. E de fogo a vida e de vida a fogo ardo em pensamentos que anseiam ser ouvidos por almas mortais. Brechas de luz que iluminam as minhas madrugadas e me forçam a encarar o orvalho na berma do trajecto. O medo arrepia-me e faz-me suar as drogas que já provei nesta vida. Encaro a loucura com uma lucidez desprovida de razão. Escrevo o sentir sem pensar e escrevo o que penso sem sentir. Imprimo no papel as palavras loucas de um génio iludido com a razão. Não lhe faz jus tal título...medíocre escritor que pelas ruas combalias com destino a poesia e usas a prosa como caminho. O caminho que percorremos decerto desigual iguala no fim da estrada. Oh carro sem travões... Oh rodas assassinas... Eu tenho o motor e ele te clama vrrrum vrrum vrrum... Ainda estou longe do precipício. Acelera a máquina que me bate no peito e abranda a vida para que tudo isto seja perto de perfeito.

quinta-feira, 6 de junho de 2024

George Orwell’s writing advice

Pessoa a escrever num caderno e a beber café

 “Never use a metaphor, simile, or other figure of speech which you are used to seeing in print.”

“ Never use a long word where a short one will do.”

“If it is possible to cut a word out, always cut it out.”

“Never use the passive where you can use the active.”

“Never use a foreign phrase, a scientific word, or a jargon word if you can think of an everyday English equivalent.”

“Break any of these rules sooner than say anything outright barbarous.”


quinta-feira, 23 de maio de 2024

Memórias

Janela com vista para uma tarde de outono

Lembro-me da primeira vez que mudei de casa. Sentada naquela cama nova, naquela casa que ecoava as nossas vozes da pouca mobília que tinha. Fiquei toda a noite a olhar pela janela do meu quarto, com os phones nos ouvidos, à espera. Simplesmente à espera. Estava com medo, nervosa. Queria alguém ali para me abraçar e dizer "está tudo bem. podes adormecer". Mas não estava. Várias vezes alguém me gritava "ninguém quer estar sozinho", quando eu tentava ter dois minutos de puro silêncio, sem ter que forçar um sorriso ou prestar atenção a alguém que não eu. Ela tinha razão. No fundo, ninguém quer estar sozinho, nem mesmo para ter aqueles dois minutos de paz. Porque ela ensinou-me que o problema não é a presença da pessoa, mas a voz. Há pessoas que deviam aprender a calar e ficar assim, em silêncio. Não por quererem, mas porque certa e determinada pessoa precisa que te cales por dois minutos. Eu aprendi que a mesma pessoa que me deita a baixo, pode ser ela mesma a estender a mão e ajudar-me a levantar. Eu aprendi muito contigo. Principalmente a crescer. Mas nessa noite, mesmo sem ninguém, onde tudo era silêncio, eu desejei o barulho. E assim que o sol nasceu e as pessoas começaram a sua rotina diária, eu sussurrei para mim mesma: "está tudo bem, podes adormecer". E lentamente fui fechando os olhos... Porque com ou sem alguém, o sol volta a nascer e mais tarde, a noite é, mais uma vez, realidade.

segunda-feira, 13 de maio de 2024

Maggie O’Farrell writing advice

 

Pessoa a escrever num caderno e a beber café

“You have to think of your fears and doubts as your friends, because they’re useful.”

 “Don’t worry to much about knowing what you’re doing at the beginning. You can start in the middle if you want! Just put the words down.” 

 “Stories will always find their own shape - they’re like water, they will fill whatever vacancy they’re given.”

“If you have trouble switching from your real world to your fictional one, try listening to the same piece of music, over and over again, until whatever surrounds you fades away.”

“Towards the end, it will be graft that gets you through. Know that you will redraft and rewrite your work thirty, forthy, fifty times. You will examine and agonize over every comma, every semi-colon, every adverb.”

“Every book teaches you something, at the same time as filling you with a desire to put this new knowledge into practice, to try again. It’s all part of the process.”


sexta-feira, 10 de maio de 2024

O Grande Gatsby - F. Scott Fitzgerald

 

Capa do livro O Grande Gatsby de F. Scott Fitzgerald

Início da leitura: 27/04/2024

Fim de leitura: 08/05/2024

Rating: ★★★

Este livro levou-me um bocado mais de tempo a concluir, não só porque não li todos os dias, como porque a linguagem do próprio livro não é algo que esteja habituada. 

Hoje em dia, quase tudo o que lemos tem finais felizes, mas neste livro o final é trágico e triste. O Gatsby, que dava sempre grandes festas de arromba na sua casa com esperança que o seu amor do passado, Daisy passa-se por lá algum dia, acabou sem amada e sem vida. E no dia do seu funeral, apenas quatro pessoas apareceram. Mostrando assim, que lá porque tens dinheiro, lá porque és uma boa pessoa, não quer dizer que venhas a ser valorizado, nem mesmo depois de morto. 

Tom aproveitou-se da situação entre Gatsby e Daisy para lhe facilitar a vida, dizendo a Wilson que o carro amarelo era de Gatsby, levando assim à sua morte, mesmo sabendo que era Daisy quem conduzia o carro quando ocorreu o acidente. Mas, assim, tiraria Gatsby do seu caminho e Wilson nunca suspeitaria que a mulher estaria a ter um caso com Tom. 

Nestes loucos anos vinte, onde o álcool fora proibido, este era contrabando fácil nas festas de Gatsby, a vida de excessos e o adultério são os temas principais deste livro, a meu ver. 


Podes encontrar aqui o livro:

Curiosidades Fascinantes sobre Dan Brown que talvez não conheças

Quando falamos de thrillers eletrizantes que misturam história, arte, religião e ciência , o nome Dan Brown vem imediatamente à mente. O aut...